segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Islam Slimani




Slimani é um jogador especial.

Como vivemos numa sociedade com moralidades assentadas em valores judaico-cristãos, temos a intrínseca tendência para simpatizar com os pobres desafortunados. E também vivemos culturalmente rodeados de histórias de heróis improváveis que lutam contra as suas limitações e conseguem suplantar as dificuldades e alcançar o sucesso.
Todo o charme de Forrest Gump advém de ele ser limitadíssimo a nível intelectual e social, e mesmo assim (por vezes até graças a isso) conseguir feitos absurdamente elevados (desde correr de um lado ao outro do continente americano, até ter sido responsável pela invenção da Apple). É o tal discurso do “Never go full retard” que Robert Downey Junior popularizou em Tropic Thunder.

O Slimani é um caso destes. Tem tudo para não funcionar.
Esteticamente é dos piores que já se viu. A sua cabeça tem uma forma irregular, cuja assimetria quando somada à boca constantemente aberta parecem sugerir que o número que ostenta nas costas é o valor do seu QI.
O seu domínio de bola lembra uma girafa a tentar descer umas escadas.
Até a celebrar os golos é desajeitado. Corre com uma galopada descoordenada, não sabe para onde se dirigir e parece que se perde no meio de uma indecisão entre levantar os braços e beijar o símbolo.

Mas, apesar de aparentar limitações intelectuais, e ser dono de uma descoordenação motora que faz dele um tosco que até numa aula de educação física seria gozado, Islam Slimani consegue fazer-se valer de outras características para conseguir concretizar as suas proezas.

Forte, alto, incansável, perna longa, matreiro, bem mais esperto do que aparenta. Tudo somado, e contra qualquer expectativa que pudesse ser feita, o rapaz quando está em campo é dos pontas de lança que mais vezes aparece para “encostar” de que tenho memória. Não sei bem o quê nem como o faz, mas quando está em campo, as oportunidades surgem.
Também por isso, é que ele é tão eficaz, com uma média de 132 minutos por golo de bola corrida no campeonato (para termos perspectiva, Jackson e Montero necessitaram, respectivamente, de 133 e de 165 minutos para marcar).

Contra tudo aquilo que seria expectável, Slimani consegue contornar as regras do estético e dos faux-pas futebolísticos de modo a tornar-se num avançado temível.

Por tudo isso, a revista Time, podemos adiantar, decidiu nomear Islam Slimani como personalidade do ano.

Prémio justo, quanto a mim.


Ralph Meade

Sem comentários:

Enviar um comentário